Os elementos de muro de arrimo no Eberick são peculiares no sentido que eles não são considerados como parte da estrutura, isto é, não estarão presentes na análise por pórtico espacial. A análise e dimensionamento de muros de arrimo no programa é realizada inteiramente na própria janela de lançamento, existindo a planilha de dimensionamento do muro para apresentar os resultados do dimensionamento e o detalhamento do muro.
Dimensionando o muro
Antes de iniciar com o dimensionamento do muro propriamente dito, algumas observações importantes devem ser verificadas. Segundo MOLITERNO (1980), a tipologia do muro escolhida deve ser considerada de acordo com a altura do talude a ser contido.
Para muros corridos ou contínuos, em concreto armado, os perfis L são recomendados para contenções de até 2,00 metros de altura. Já o perfil clássico, seção T, pode ser empregado em casos de muros com alturas variando entre 2,00 a 4,00 metros. Acima destas alturas, o mesmo autor cita a possibilidade de partir para soluções especiais, tais como muros atirantados ou com contrafortes.
Voltando para a análise do muro de arrimo, no programa Eberick, o dimensionamento de muros de arrimo é realizado diretamente no seu diálogo de lançamento, eliminando a necessidade de processamento da estrutura. Neste mesmo diálogo o programa apresenta a condição de dimensionamento do muro. Caso seja necessária uma melhor análise do dimensionamento do muro ou verificação de erros no dimensionamento é possível acessar o ícone Relatórios (), na janela de dimensionamento dos muros e solicitar a apresentação do Relatório de Cálculo. Os relatórios do Eberick podem ser gerados em 3 formas diferentes de visualização, conforme indicado no artigo Como salvar relatórios do Eberick?
O relatório de cálculo detalhado, na seção Verificações do muro, mostra ao usuário o resultado para cada uma das verificações pertinentes aos muros de arrimo. É importante também entender as combinações de carregamento, conforme o próprio relatório apresenta também.
1 - Verificações de dimensionamento do muro, parte do relatório detalhado.
2 – Representação dos carregamentos solicitantes de acordo com o tipo de carga.
Tombamento: Neste item é verificado o momento resistente (Mr) em relação ao momento solicitante (Ms). O momento solicitante é a multiplicação da força (Ftot) resultante de empuxo ativo aplicada a certa altura em relação à base do muro. Repare que, dependendo do tipo de ação, a resultante Ftot está em uma posição de aplicação diferente (ver figura 2). O momento resistente é a resultante de momento gerada pelo peso próprio do muro somada às contribuições do empuxo passivo do solo sobre a estrutura do muro. A verificação do critério de tombamento, segundo prescrições normativas é de no mínimo 1,5 e está diretamente relacionada à altura do muro e sua seção, uma vez que a tipologia do muro está relacionada à possibilidade de contribuição do empuxo passivo para a estabilidade do muro.
Exemplo: de uma maneira geral, muros relativamente altos (quando comparadas as relações entre dimensões da base e altura do elemento) tendem a apresentar situações de dimensionamento críticas quanto ao tombamento. Conforme apresentado, é interessante avaliar o relatório de cálculo do muro para compreender melhor o seu desempenho estrutural.
4 –Verificação do resultado de tombamento, verificação não atendida.
Para solucionar problemas de tombamento, pode-se alterar as propriedades geométricas dos muros de tal forma a atender à estabilidade do muro frente aos momentos solicitantes, respeitando o fator de segurança imposto. Para isso é possível permitir bases maiores para o muro em Estrutura - Configurações - Projeto - Dimensionamento - Muros.
- Escorregamento: Verifica-se a possibilidade de deslizamento horizontal do muro na interface base/solo devido a resultante horizontal do empuxo ativo. A verificação então deve atender à condição de segurança de 1,5 de deslizamento, onde a soma de Fr da base (força de atrito resistente da região da base) com a parcela Fr dente (devido ao dente ou altura colaborante da base) seja atendida quando comparada ao esforço Fs solicitante. De uma maneira geral têm-se três fatores importantes nesta verificação, a área de contato da base do muro, o fator de atrito entre os materiais e a utilização de um modelo com dente.
5 - Deslizamento do muro devido aos esforços horizontais serem superiores à força de atrito da interface base/solo.
Em situações de deslizamento do muro, pode-se verificar a possibilidade de aumentar a base (área de contato) do muro ou ainda aplicar uma elevação do solo no lado interno. Como a força de atrito depende da força normal exercida pelo muro sobre o solo, ao acrescentar este carregamento a força resistente de atrito também será aumentada.
6 – Possibilidade de solução para situações de deslizamento do muro.
- Cisalhamento: Neste item é verificada a capacidade resistente da parede quanto aos esforços de cisalhamento. Esta verificação é realizada conforme o item 17.4.2.2 da NBR 6118, quanto ao valor resistente VRd2. Lembrando que neste caso o valor de “d” será o valor da largura do muro correspondente ao ponto de aplicação da carga resultante horizontal, subtraída do cobrimento do muro e diâmetro da armadura de flexão.
Quando o dimensionamento não é realizado devido ao cisalhamento, considerando que os carregamentos estejam corretos, será necessário aumentar a largura do muro pois esta é insuficiente para atender ao esforço cortante devido aos esforços horizontais.
- Deslocamento de topo: Conforme o capítulo 13 da NBR 6118, existem limites para deslocamento dos elementos estruturais em serviço. No caso dos muros também deve ser verificada a condição de deslocamento do topo;
- Pressão de base: Corresponde à verificação de capacidade portante do solo em relação à pressão exercida pelo conjunto muro + solo contido. Neste caso é considerada a carga de compressão devido ao momento aplicado pela carga horizontal, somado ao peso próprio do muro e eventual carregamento do próprio solo sobre as abas dos muros. Caso a pressão admissível configurada para o solo não atenda à pressão resultante da divisão dos carregamentos pela área de base, será apresentado o erro de dimensionamento referente à pressão na base, indicando que será necessário permitir o dimensionamento de bases maiores para o muro em questão.
Referências Bibliográficas
MOLITERNO, A. Caderno de muros de arrimo. São Paulo, 1980.