Estruturas Pré-Moldadas

Dimensionando as lajes alveolares de uma estrutura pré-moldada

O uso de concreto pré-moldado em edificações normalmente está associado à velocidade de construção, eficiência e versatilidade arquitetônica. Com o constante acréscimo da necessidade de processos construtivos que busquem as características acima de forma cada vez mais otimizada, pode-se concluir que a pré-fabricação das estruturas de concreto é um processo industrializado com grande potencial para o futuro. Todavia, a pré-fabricação ainda pode ser vista por algumas pessoas como se fosse apenas uma variante técnica das construções de concreto moldadas no local. Isso se deve à falta de profissionais com experiência neste tipo de concepção estrutural, gerando assim certa resistência por parte destes profissionais na escolha pela pré-fabricação. Além disso, a falta de conhecimentos acerca do processo construtivo utilizando a pré-fabricação resulta em projetos que não aproveitam toda a potencialidade deste sistema, o que também pode ocultar as reais vantagens da pré-moldagem.

Erros de dimensionamento

Conforme levantamento realizado no artigo anterior, no projeto exemplo haviam sido identificados problemas somente nas lajes do pavimento Térreo, nas lajes L1 à L9.


Lajes do pavimento térreo (lajes com erro em azul claro)

Ao detalhar estas lajes, verifica-se que é emitido o erro D64 - Laje pré-fabricada insuficiente para os esforços calculado:


Este erro é emitido para lajes do tipo vigotas protendidas e lajes alveolares, quando as seções das lajes não atendem às cargas e vãos definidos no cadastro destas lajes. O que ocorre é que para estas lajes é calculada uma carga equivalente total (desconsiderando o peso próprio), através do momento fletor máximo obtido pelo modelo de grelha. Dada esta carga, o programa irá verificar na tabela cadastrada a primeira carga de valor igual ou superior à carga total. Se o vão cadastrado for superior ao vão da laje, a mesma será dimensionada corretamente, caso contrário, será apresentado este erro de dimensionamento. Esta situação foi justamente o que ocorreu para o presente caso, já que os vãos das lajes são maiores que o cadastrado para o carregamento existente na laje.

Sobrecarga x vão

Acessando a janela de dimensionamento das lajes do pavimento, pode-se gerar o relatório de lajes alveolares, que apresenta as seguintes informações:


Relatório de lajes alveolares apresentando erro D64

Com isso, pode-se comparar o carregamento da laje e o vão da mesma ao cadastro das lajes alveolares, acessado no menu Estrutura - Configurações - Sistema - Lajes alveolares:


De acordo com a tabela acima, a primeira sobrecarga superior à da laje (de 900 kgf/m2) é de 1000 kgf/m2, sendo que para esta carga pode-se admitir um vão de até 730 cm. Como o vão da laje é de 775 cm, que é superior ao máximo, é então, emitido o erro.

Para casos como este, uma opção para eliminar o erro nas lajes seria consultar o gráfico da sobrecarga x vão do fabricante da laje, verificando a possibilidade de acrescentar no cadastro o vão máximo que a laje pode ter para o valor exato calculado para a sobrecarga das lajes do projeto.


 Gráfico exemplo de sobrecarga x vão

Somente para exemplificar, caso fosse adicionada ao cadastro a sobrecarga de 900 kgf/m2, que foi calculada para as lajes deste projeto, e para esta um vão máximo de 790 cm, que seria o vão para esta sobrecarga conforme o gráfico acima, teríamos o seguinte:


Com isso, reprocessando a estrutura verifica-se que todas as lajes podem ser dimensionadas normalmente.


Relatório de lajes alveolares dimensionadas

Considerações finais

Uma outra opção para eliminar o erro das lajes seria alterar o tipo de laje. No exemplo utilizou-se uma laje alveolar LP20 (20+5), no entanto poderia ter sido adotada uma laje um pouco mais espessa (LP30, por exemplo), já que estas permitem carregamentos maiores em relação aos vãos das lajes mais finas.

No presente momento, devido ao lançamento realizado inicialmente e ao tipo de erro que ocorreu nas lajes, pode-se manter, em princípio, as lajes com a espessura atual. No entanto, devido aos futuros problemas que serão solucionados (erros de instabilidade e erros no dimensionamento de vigas, por exemplo) é possível que o lançamento das lajes ainda seja alterado. O importante é o projetista ter em mente que os elementos estruturais não são analisados individualmente, devido ao modelo de pórtico, sendo normal, portanto, a alteração de dados do lançamento de qualquer elemento no decorrer da execução do projeto.

Como o dimensionamento das lajes alveolares realiza apenas a comparação do vão da laje com os limites cadastrados para as diversas sobrecargas totais, estas lajes não terão opção para detalhamento, pois o programa não calculará nenhuma armadura, seja positiva ou negativa de continuidade. Assim, na janela de dimensionamento, tabela "Positivo", as colunas “Armadura X” e “Armadura Y” aparecem em branco, assim como a coluna “Flecha Max”. Também não serão incluídas no relatório Resultados ou no diagrama Flechas. O único detalhamento possível será a apresentação das armaduras contra fissuração, quando habilitadas. Confira também: Armaduras complementares no detalhamento de lajes.

O objetivo deste artigo foi o de realizar uma verificação do dimensionamento das lajes alveolares, exibindo possíveis erros que podem ocorrer no processamento do projeto e informando alternativas de soluções para que tais erros sejam eliminados.

Tendo definido as lajes do projeto passam a ser conhecidas as suas contribuições no pórtico (reações das lajes no modelo), podendo-se partir, portanto, para a resolução dos problemas de instabilidade global da estrutura e dimensionamento das vigas. Nos próximos artigos serão abordados tais problemas e serão indicadas possíveis soluções para que estes sejam resolvidos.

Autora: Engª Micheli Maria Mohr