Estruturas Pré-Moldadas

Iniciando projetos de estruturas pré-moldadas

O uso de concreto pré-moldado em edificações normalmente está associado à velocidade de construção, eficiência e versatilidade arquitetônica. Com o constante acréscimo da necessidade de processos construtivos que busquem as características acima de forma cada vez mais otimizada, pode-se concluir que a pré-fabricação das estruturas de concreto é um processo industrializado com grande potencial para o futuro. Todavia, a pré-fabricação ainda pode ser vista por algumas pessoas como se fosse apenas uma variante técnica das construções de concreto moldadas no local. Isso se deve à falta de profissionais com experiência neste tipo de concepção estrutural, gerando assim certa resistência por parte destes profissionais na escolha pela pré-fabricação. Além disso, a falta de conhecimentos acerca do processo construtivo utilizando a pré-fabricação resulta em projetos que não aproveitam toda a potencialidade deste sistema, o que também pode ocultar as reais vantagens da pré-moldagem.

Projeto exemplo

Para esta série, utilizamos um modelo estrutural que foi previamente lançado no Eberick Pré-moldado. Este modelo pode ser visualizado na figura abaixo:


No modelo proposto foram lançados 3 pavimentos, sendo um de fundação, com 1,5m de altura, e os demais com 3,5m de altura. Inicialmente foram adotadas vigas pré-moldadas com seção de 25x60cm em 1º estágio, pilares pré-moldados com seção de 40x40cm e lajes alveolares de 25cm de espessura, sendo 5cm de capa de concreto. Os consolos dos pilares foram definidos como sendo trapezoidais, com 20cm de comprimento. No pavimento de fundação, foram consideradas vigas baldrame moldadas in loco de 25x60cm. As fundações dos pilares pré-moldados são do tipo bloco com cálice.

Segue abaixo uma nova figura ilustrando o lançamento dos elementos estruturais em planta baixa:


Adotou-se um carregamento de parede sobre as vigas do contorno da estrutura, considerando uma altura de 3,5m de parede e 15cm de espessura. Para as vigas da cobertura, este carregamento considerou apenas 1m de altura de parede, correspondente ao peitoril da obra.

Com relação aos carregamentos sobre as lajes, foram adotadas cargas acidentais e de revestimento. As cargas acidentais foram de 700 kgf/m² no 1º pavimento e 200 kgf/m² na cobertura. Já a carga de revestimento foi de 200 kgf/m² para todas as lajes.

Verificando a estabilidade global da estrutura

Tendo definido a estrutura que será tomada como base para as análises realizadas em nossos artigos, podemos iniciar nossos estudos a partir da análise global da estrutura.

Após processar a estrutura (inicialmente somente com a opção ”Análise estática linear” marcada), pode-se clicar no botão “Resultados”. É importante verificar se a estrutura apresenta problemas de estabilidade, uma vez que a mensagem de que a estrutura foi processada com avisos é emitida pelo programa.


Tendo clicado no botão Resultados podemos verificar que a estrutura apresenta os seguintes resultados:


  • Relação de carga por área: O aviso "Relação carga por área não usual para edifícios" é emitido quando a razão entre o somatório total das cargas e a área total da estrutura for inferior a 900 kgf/m² ou superior a 1300 kgf/m². Esta relação é, na verdade, um parâmetro que pode ser utilizado para observar se os carregamentos considerados estão dentro dos valores usuais de projeto de edificações residenciais e comerciais, já que valores muito acentuados para esta relação podem indicar que as cargas não foram lançadas corretamente pelo usuário. No exemplo, este valor foi de 1390 kgf/m² podendo ser considerado normal, já que a edificação será utilizada para fins comerciais, porém com aplicação para uma loja, com sobrecarga de 700 kgf/m². Assim, neste caso o aviso será ignorado, uma vez que os carregamentos adotados para as lajes implicam realmente em maior relação carga/área. Para mais informações, confira: Relação carga por área não usual para edifícios.
  • Deslocamentos horizontais: não apresentam problemas à estrutura, uma vez que os deslocamentos obtidos foram menores que os valores limite calculados para esta obra.
  • Coeficiente Gama-Z: apresentou-se acima do valor limite estipulado no item 15.4.2 da NBR 6118:2014, para que a estrutura seja considerada como de nós fixos, sendo que neste caso os efeitos de 2ª ordem devem ser considerados. No Eberick, pode-se verificar a análise de 2ª ordem através do processo P-Delta, o qual irá calcular os efeitos de 2ª ordem provenientes da não linearidade geométrica da edificação. Confira também: Como avaliar a estabilidade global da estrutura?
  • Processo P-Delta: os resultados dos deslocamentos no topo da estrutura calculados pelo processo P-Delta apresentaram-se elevados, sendo que o ideal é obter valores até 15% para uma estrutura deste porte.

Inspeção visual da estrutura

A análise dos deslocamentos elásticos definidos para a aplicação de cargas verticais indicou deslocamentos verticais elásticos máximos de 5,53 cm em alguns pontos da sua estrutura. Cabe somente destacar que tais deslocamentos foram verificados na região em que há vigas apoiando-se umas sobre as outras. Além disso, as vigas internas do projeto também estão com deslocamentos bastante expressivos, como se pode observar na figura. Dessa constatação, depreende-se que o modelo estrutural proposto contém alguns pontos que podem ser melhorados no projeto, os quais serão comentados na seqüência.


Dimensionamento dos elementos

Após processar a estrutura, os elementos estruturais foram calculados, a fim de que fosse possível mapear as situações críticas do projeto, através da identificação dos elementos que apresentam problemas de dimensionamento.

Todas as lajes do pavimento Cobertura passam no dimensionamento. As lajes do pavimento Térreo, no entanto, encontram-se, em sua maioria, com erro de dimensionamento.


Lajes do pavimento Cobertura


Lajes do pavimento Térreo (lajes com erro em azul claro)

Em torno de 30% das vigas apresentam-se com erro de dimensionamento no pavimento Cobertura:


Vigas da cobertura

Já em relação às vigas do pavimento Térreo, tem-se que 45% das vigas deste pavimento estão com erro de dimensionamento:


Vigas do pavimento Térreo

Por fim, as vigas baldrame, moldadas in loco, passaram no dimensionamento, podendo ser detalhadas normalmente.

Para o projeto lançado inicialmente, todos os pilares apresentaram erro de dimensionamento em pelo menos um dos pavimentos. Em virtude disso, as fundações também não puderam ser dimensionadas.


Pilares da estrutura

Os elementos que demandam ajustes para permitir o dimensionamento estão listados na tabela abaixo. Os demais aparentemente não apresentam erros, podendo ser dimensionados e detalhados normalmente.

Verificados os pontos críticos da estrutura, pode-se partir para soluções que busquem eliminar tanto a instabilidade global da estrutura quanto o dimensionamento dos elementos em si.

Colaboradora: Engª Micheli Maria Mohr