Como são determinados os comprimentos de traspasse para emendas de armaduras?
Em situações em que se faz necessário realizar a emenda de barras para cumprir um determinado detalhamento, uma das opções existentes no programa é a emenda por traspasse das barras. Neste tipo de emenda, o comprimento necessário de traspasse é calculado em função das propriedades de ancoragem da armadura. Na sequência, explica-se como é realizado, pelo AltoQi Eberick, o cálculo do comprimento de traspasse necessário para barra tracionadas e comprimidas.
Este procedimento de cálculo é inteiramente baseado na norma NBR 6118:2014, item 9.5.2. Além da norma, que simplesmente prescreve o procedimento de cálculo, é possível encontrar mais detalhes e justificações na literatura, da qual citam-se Fusco (1995) e Leonhardt (1978), que apresentam a teoria por trás do procedimento de cálculo prescrito por norma.
Comprimento de traspasse para barras tracionadas
Para determinar o comprimento de traspasse de barras tracionadas, o item 9.5.2.2.1 prescreve a equação:

- l0t = comprimento de traspasse necessário para barras tracionadas;
 - α0t = coeficiente função da proporção de barras emendadas na mesma seção, conforme Tabela 9.4;
 - lb,nec = comprimento de ancoragem necessário para a barra, de acordo com item 9.4.2.5 da norma;
 - l0t,mín = comprimento mínimo de traspasse, definido como o maior valor entre 0,3*α0t*lb, 15Φ e 20cm
 
Para obter o valor de α0t, observa-se a Tabela 9.4 da norma:

Este coeficiente depende do percentual de barras sendo emendadas na mesma seção. Importante: O AltoQi Eberick, por critério interno e a favor da segurança, adota o valor deste coeficiente como fixo em 2,0.
Para obter-se o comprimento de ancoragem necessário, o item 9.4.2.5 prescreve:

Onde,
- α = Coeficiente função da existência de ganchos de ancoragem;
 - lb = Comprimento de ancoragem básico, definido no item 9.4.2.4 da norma;
 - As,calc = Área de aço calculada para esta armadura;
 - As,ef = Área de aço adotada para a armadura;
 - lb,mín = Comprimento mínimo de ancoragem, definido como o maior valor entre 0,3*lb, 10 Φ e 10 cm.
 
No caso de traspasse sem gancho, detalhado pelo AltoQi Eberick, o coeficiente α tem o valor fixo de 1,0. Para obter o comprimento de ancoragem básico, o item 9.4.2.4 prescreve:

onde,
- Φ = diâmetro da barra;
 - fyd = tensão de cálculo de escoamento do aço;
 - fbd = tensão resistente de aderência da barra.
 
A resistência de aderência da barra é função da resistência à tração fctd do concreto, modificada por coeficientes η1, η2 e η3, determinados de acordo com a condição da barra e da região que está situada, de acordo com o item 9.3.2.1:

Onde:
- fbd = tensão resistente de aderência da barra.
 - fctd = resistência de cálculo à tração do concreto = fctk,inf/γc (conforme 8.2.5, com γc = 1,4)
 - η1 = coeficiente função do tipo de barra (1,0 para barras lisas, 1,4 para barras entalhadas, 2,25 para barras nervuradas)
 - η2 = redução para regiões de má aderência, conforme item 9.3.1. (0,7 para regiões de má aderência, 1,0 para regiões de boa aderência)
 - η3 = coeficiente redutor para barras com diâmetros maiores que 32mm (1,0 para Φ < 32mm, (132-Φ)/100 para Φ ≥ 32mm)
 
Comprimento de traspasse para barras comprimidas
O procedimento para obtenção do comprimento de traspasse para barras comprimidas é análogo ao para barras tracionadas, sendo desconsiderado apenas o coeficiente α0t. O item 9.5.2.3 da norma prescreve:

onde,
- l0c = comprimento de traspasse necessário para barras comprimidas;
 - lb,nec = comprimento necessário de ancoragem, conforme item 9.4.2.5;
 - l0c,mín = comprimento mínimo de traspasse para barras comprimidas, definido como o maior valor entre 0,6*lb, 15Φ e 20cm
 
Referências Literárias:
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6118: Projeto de estruturas de concreto - Procedimento. Rio de Janeiro, 2014.
FUSCO, Péricles Brasiliense. Técnica de armar as estruturas de concreto. São Paulo: Pini, 1995. p. 183-189.
LEONHARDT, F.; MÖNNIG, E. Construções de concreto, volume 3: princípios básicos sobre a armação de estruturas de concreto armado. Rio de Janeiro: Inteciência, 1978. p. 59-72